Design Thinking, pensar como design

Design thinking não é uma metodologia e muito menos pode ser considerado um processo, mas é um facilitador na hora de iniciar um projeto e pode realmente salvar o seu produto. Escrever sobre o tema já está até meio batido, mas o mercado se apropriou do nome e com isso vários absurdos estão sendo cometidos, vender como metodologia é um deles. Designers de peso negam a sua existência por isso, mas a abordagem, se bem executada, pode trazer inúmeros benefícios.

Design Thinking, método e/ou processo?

É fácil confundir, afinal “método” é o processo para se atingir um determinado fim ou para se chegar ao conhecimento, mas para ser um método o design thinking teria que ter uma fórmula e/ou meios fixos que pudessem ser aplicados independente da situação, e a abordagem vai na outra direção. Por mais que o comercial de várias empresas queira vender como metodologia, e tentar chegar num produto de caixinha com fórmula mágica de sucesso para os seus projetos, não é bem por aí.

Chamar de processo é pior, pois a abordagem nem sempre é evolutiva e somente se considerar que adquirir conhecimento sobre algo seja um avanço, não se pode dizer que design thinking seja um processo.

O termo não é novo, apareceu pela primeira vez em 1969 no livro The Science of the Artificial, de Herbert A. Simon. E, na engenharia, o “design como forma de pensar” ficou mais claro com “Experiences in Visual Thinking” em 1973, de Robert McKim, que fala da abordagem como forma de resolver problemas de design na criação de produtos. Em Stanford, o termo design thinking foi amplamente difundido como uma forma de ação criativa. Dos corredores de Stanford, David M. Kelley abraçou o modelo e levou para a IDEO, empresa de consultoria de design de produtos que ajudou a fundar em 1991. O grande sucesso da empresa possibilitou a difusão da abordagem. Portanto, não é uma metodologia ou um processo, talvez o mais apropriado seja chamar de “abordagem”.

Por onde devo começar?

Bom, agora que tomou uma “surra” de Wikipédia, vamos entender do que estamos falando. Para começar, é preciso entender o que é design. A maioria já ouviu falar, mas realmente se engana ao conceituar o termo. Design não pode ser meramente traduzido como “desenho” e/ou ato de desenhar. Designer (aquele que faz design) não é o “mocinho do Photoshop” e muito menos o cara que vai dar um “tapa no visual”. Existem inúmeras definições para o termo e a que mais gosto vem do maior profissional designer que tive o prazer de conhecer: Alexandre Wollner. No documentário “Alexandre Wollner e a Formação do Design Moderno no Brasil”, Wollner foi preciso em dizer que: “Design é projeto, design não é ilustração”. E vindo da cara que criou a identidade visual do banco Itaú, Philco, Hering, entre outras, e que é considerado o pai do design moderno no Brasil, tem muito peso. Quem sou eu para discordar. Na realidade gosto muito deste simples conceito, pois facilita o entendimento de como funciona o design thinking.

Vamos aos fatos, com Wollner em mente, pensando em design como projeto, imagine que vai construir uma ponte. Você chega lá na beira do rio, sai construindo e logo está do outro lado? Nada disso, primeiro tem que medir o tamanho do rio, profundidade, avalia as condições do solo e da água, separar e calcular o material. Faz um esboço da ponte que deseja construir, faz cálculos e com isso tudo muito bem esquematizado, pensa em iniciar a construção de uma ponte. Meus parabéns, você acaba de utilizar o design thinking em um projeto. Ok, ok, sei que é uma abordagem muito pessoal sobre. Que me perdoem os estudiosos do tema, mas é simples assim.

 

Existem fases e/ou etapas no design thinking, que podem variar muito conforme o projeto e devem ser utilizadas de acordo com a sua necessidade. No exterior, consultorias utilizam termos como inspiração, ideação e implementação. Outro conceituado escritório de projetos e design adota insights, ideias, protótipos e realização. Também tem de descobrir, projetar e entregar. No Brasil, uma consultoria trata sobre imersão, ideação e prototipação (gosto desse). Mas seja qual for o nome, tudo tem a ver com adquirir conhecimento, ter ideias e testar seus projetos. Ou seja: pare, pense e aprenda para somente depois executar. Por mais simples que possa parecer são conceitos que as pessoas aparentam esquecer e pouco aplicam nos seus projetos e muito menos nas próprias vidas.

“Parar, pensar, testar e aí sim executar”

Imersão, Ideação e prototipação

Vamos voltar para a ponte. Primeiro é necessário conhecer o terreno, escolher o melhor local para construí-la, saber para quem vai ser útil ter uma ponte naquele local, entrevistar os nativos, conhecer a natureza ao redor para poder descobrir a melhor forma de se construir uma ponte naquele local, com o menor custo e o prazo mais apropriado. No design thinking esta é a primeira etapa, vamos chamá-la de “imersão”. Que é quando você tem que entender o problema, conhecer todas as variantes. Ainda não é hora de propor soluções, o momento é para focar totalmente em conhecer o problema a ser resolvido. 

Agora que já colheu todas as informações, fica mais fácil ter ideias de onde colocar a ponte, o seu formato, que peso ela precisa aguentar e quanto material vai ser preciso. Com informação tudo fica mais fácil, e é aí que surgem boas ideias. Para esta etapa vamos dar o nome de “ideação”. Toda ideia é bem-vinda, mesmo as mais absurdas. Com o conhecimento adquirido na imersão é mais fácil ter uma boa ideia para a sua ponte. Conhecendo melhor, fica mais simples enxergar o problema e propor soluções.

Escolhemos uma boa ideia. Agora é só sair construindo… Como assim? Vai gastar dinheiro em pessoal e material para descobrir que a sua ideia não é tão boa assim? Para que isso não aconteça é preciso testar a sua ideia, para esta etapa vamos dar o nome de “prototipação”. Você deve rascunhar a sua melhor ideia, construir um modelo e/ou maquete da ponte, visualizar a solução de uma forma que não seja necessário ainda gastar na produção. Crie protótipos, quantos forem necessários e teste. Desta forma, se errar não tem problema, basta avaliar onde errou, ter novas ideias e prototipar novamente. Até chegar em um modelo maduro, baseado em dados precisos coletados anteriormente.

E o que ganho com isso?

Não é metodologia e muito menos processo, Design Thinking é uma abordagem que move a equipe em torno do entendimento e proposição de soluções para um problema de design. Temos etapas bem definidas, mas flexíveis, que devem ser adaptadas de acordo com as necessidades do projeto. É preciso contratar um pessoal especializado e/ou que tenha vivência neste tipo de abordagem, e também é necessário tempo para abordar o problema. Se eu perder este tempo todo, onde ganho com o design thinking? Na realidade, o tempo que gastou no aprendizado é ganho dobrado no tempo da produção, é economia evitando desperdício de material, na utilização maquinário e no retrabalho do projeto. Design thinking é planejamento puro, necessário em todo projeto, para ter ações mais assertivas no futuro.