“Efeito chicote” na TI brasileira

Acredito que toda crise seja um momento de oportunidades e novas experiências. Na verdade, estamos criando uma nova realidade, e a  tecnologia é peça-chave e indispensável em todo esse processo.

As compras online, por exemplo, já são um novo hábito de consumo. Como forma de prevenção, muitas pessoas têm evitando as lojas físicas e estão se voltando cada vez mais para o e-commerce. De acordo com uma pesquisa encomendada pelo Facebook IQ ao Ibope Inteligência, 28% das pessoas no Brasil já estão fazendo mais compras digitais desde o início da pandemia.

Segundo o Movimento Compre & Confie, que conscientiza empresas e consumidores para compras online seguras, o e-commerce brasileiro faturou R$9,4 bilhões em abril, um aumento de 81% em relação ao ano passado. Dentre os itens que tiveram maior crescimento estão alimentos e bebidas, remédios, instrumentos musicais, brinquedos, eletrônico, e cama, mesa e banho.

O fato é: estamos passando mais tempo conectados do que nunca. O Home Office está trazendo mudanças culturais nas empresas. Quantas já vão aderir o trabalho remoto quando tudo isso passar? Nativos digitais, como Google, Facebook,  Nubank e Amazon já se manifestaram sobre a prorrogação de trabalhar em casa. 

Obviamente, o que deve estar atrás de toda essa digitalização é uma boa infraestrutura de TI. Ou seja, necessitamos cada vez mais de profissionais capacitados em tecnologia da informação para que haja maior suporte para realizar toda esta  transformação.  De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) este é o maior desafio para a companhias, já que há um déficit de pessoal de TI  a cada ano, e estima que até 2024, a demanda chegará a 420 mil novos profissionais. 

Percebo que após este período de isolamento e retomada econômica estaremos vivendo o que chamo de “efeito chicote em TI”. O termo muito utilizado na gestão de cadeia de suprimentos, pode ser explicado da seguinte forma: ocorre quando existe uma disparidade entre as reais demandas dos consumidores e o que foi previsto. São muitas empresas e pessoas físicas querendo se digitalizar em pouco tempo.

Para exemplificar este conceito, relacionando com a área de tecnologia da informação, vejamos um exemplo: com o aumento de trabalho remoto, há necessidade de mais profissionais em cibersegurança na prevenção de ataques e também para manter todo o ambiente de trabalho e de casa seguros.  Qualquer lacuna pode provocar um blackout, e consequentemente, à perda de importantes dados. De acordo com um relatório do (ISC)², o Brasil precisaria de 486 mil postos de trabalho somente em segurança da informação. 

Já estamos em um novo mundo, bem diferente daquele em que vivíamos há dois meses.  Devemos estimular a criatividade, a inovação enquanto vamos aprendendo a viver nessa nova realidade. Como mencionei no meu artigo do mês passado, quem souber administrar processos e se adaptarem a este período, são aqueles que vão sobreviver. 

Temos que ser otimistas: quantas oportunidades iremos ter na capacitação de jovens em tecnologia neste exato momento? Há várias empresas disponibilizando cursos gratuitos sobre TI e incentivando mais profissionais a entrarem neste mercado.  Precisamos reter esses talentos e oferecer oportunidade de crescimento para jovens, além de, investir em mais treinamento e qualificação. 

É por meio da educação que vamos transformar o futuro do país e do mercado de TI. Não podemos esquecer que, em um futuro não tão distante, todas as profissões precisarão de habilidades de tecnologia da informação e de programação.