A cultura do herói – a anti-gestão

Você já ouviu a seguinte frase: trabalhar com Tecnologia da Informação (TI) não é como trabalhar em fábrica, em que você entra às 8h e sai às 17h? Explico. Não estou falando em ser radical e interromper alguma tarefa importante porque o expediente acabou, mas será que é preciso trabalhar horas extras sem ter previsibilidade sempre?

Acredito que você já tenha visto colegas trabalhando sem parar, fazendo muitas horas extras e até mesmo virando finais de semana para tentar salvar entregas e, com isso, virar o herói – aquele que sempre salva o projeto/empresa devido ao seu conhecimento e comprometimento. Essas pessoas são geralmente muito bem vistas pelas organizações e muitas vezes reconhecidas, incentivando a “Cultura do Herói”.

Mas, você quer ter um Herói em sua equipe? Minha resposta é: com certeza não. A justificativa é que, caso eu tenha um Herói em minha equipe, isso significa que o planejamento não foi bem feito nem todos os riscos identificados, o que leva a me sentir fracassado como Gestor. 

Note que a palavra “Gestor” tanto é válida para projetos Agile quanto Waterfall. A Gestão também engloba a parte de compartilhamento de conhecimento, e sendo assim, umas das tarefas do Gestor é capacitar o time para atuar em tarefas relacionadas ao gerenciamento de projetos. Com esse conhecimento, os membros dos times serão capazes de assumir projetos, ou partes deles, levantando riscos e assumindo mais responsabilidades. 

Em um time eficaz e bem gerenciado, todos são heróis.  Não há a necessidade de alguém para salvar o projeto, já que ele não está em risco constante e os objetivos planejados estão sendo atingidos. É extremamente ruim concentrar o conhecimento e a responsabilidade somente nos heróis.

Hoje em dia, ainda há a cultura de depreciar quem trabalha por 8 horas ou menos no dia. Para você ter um projeto duradouro e com pessoas produtivas, no entanto, a liderança não pode sobrecarregar a equipe, e sim torná-la mais eficaz.

Independentemente de onde você está, ou quantas horas você trabalha, o mais importante é o compromisso com o resultado e a entrega de valor. 

É quase inevitável que projetos se deparem com o inesperado, o que faz parte do jogo. Nesse momento, o time precisa se desdobrar e voltar aos trilhos novamente. São casos, claro, que precisam ser exceção no dia a dia da operação.

Projetos conhecidos como “puxados” – que podemos traduzir como mal planejados – normalmente necessitam de heróis para serem salvos. E muitas vezes as pessoas se recusam a trabalhar neles por saberem que ficarão sobrecarregadas, estressadas e infelizes, já que o crescimento individual e do grupo é constantemente interrompido e comprometido por essa cultura.

Para acabar com essa maneira antiquada de trabalho, algumas medidas podem ser tomadas: priorização de tarefas por urgência/importância, delegação (mesmo gerenciais como mencionado) para outros membros do time, estímulo ao conhecimento em  fluxo constante e uniforme da equipe (todos possuem um “backup”) e, principalmente, trabalho com estimativas e prazos realistas, sendo sempre transparente com o cliente.

Pensar em maneiras de fazer as tarefas de uma forma mais eficaz é sempre importante para o desenvolvimento da equipe e a construção de uma cultura que privilegie as melhores práticas de gestão. Uma dica é conhecer mais sobre o Agile e o Management 3.0.

O que acham de formarmos uma equipe de profissionais capacitados e motivados sendo que ninguém precise bancar o Herói?

Fidelis Stolf é gerente de projetos e agile coach na GFT Brasil