A invisibilidade dos talentos brasileiros impacta na geração de oportunidades

O Brasil é conhecido por sua diversidade, multipluralidade e, por que não por ser um banco de talentos mundial? Em novembro de 2019, Adrieny Monteiro, de 15 anos e moradora do Rio de Janeiro, ganhou medalha de ouro na World Mathematics Team Championship (WMTC), olimpíada internacional de matemática realizada na China. A jovem é apenas um exemplo da quantidade de talentos que temos no país e nos faz refletir sobre a maneira como estamos investindo e apoiando nossos prodígios.

Outro caso emblemático é do hexacampeão da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), Rodrigo Nascimento, de 19 anos e morador do município de Capela do Alto, interior de São Paulo. Mesmo tendo grande potencial, Rodrigo tinha que conciliar o trabalho com os estudos, chegando a trabalhar 12 horas por dia em um supermercado, sem carteira assinada, empenhado a dar uma vida melhor a si mesmo e seus familiares.

Esses são alguns exemplos do potencial dos nossos talentos. Apesar deles, continuamos a cair em rankings mundiais de educação. Na mais recente avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA na sigla em inglês), o Brasil posicionou-se entre os 10 últimos colocados, indo na contramão desses avanços.

O que fazer para mudar esse cenário? Qual a importância de prezar e incentivar os estudos? Quanto mais nos destacamos em disciplinas que requerem interpretação de texto e matemática, mais nos aproximamos do futuro do trabalho, que vem sendo transformado pela tecnologia de informação, que por sua vez exige lógica, curiosidade e criatividade.

Programação: a nova língua fundamental para a revolução digital ou, como muitos chamam, 4ª Revolução Industrial

Associo o futuro à característica exponencial da tecnologia da informação, que está acelerando a Inteligência Artificial, Ciência dos Dados, Big Data, Cloud, Realidade Virtual, Conectividade, entre outros elementos fundamentais da revolução digital que está acontecendo. A Programação e Desenvolvimento de Software, por sua vez, surge como uma nova Língua, como o Português e o Inglês, indispensável e base da nova era do Trabalho, onde todas as profissões e carreiras vão demandar conhecimento em programação.

O Mercado de Tecnologia da Informação brasileiro tem gerado 1,5 milhão de empregos, com 7% de participação no PIB nacional, contudo com milhares de vagas de emprego abertas atualmente, não preenchidas em TI, e que tende a aumentar exponencialmente nos próximos 3 anos no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Isto porque o investimento em educação para a formação de profissionais na área de STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) é muito baixo, como mostra estudo da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes).

Para se ter uma ideia, já em 2013, cerca de 40% dos graduados chineses, país que está liderando uma revolução educacional desde a virada do século XXI, tinham concluído algum curso relacionado à famosa sigla, que se tornou um grande negócio nas prósperas universidades chinesas. Em 2016, segundo o Fórum Econômico Mundial, o país asiático graduou mais de 4,7 milhões de profissionais nas áreas de STEM.

Diante dessa revolução digital sem precedentes na história, também estamos passando por uma transformação na maneira como aprendemos e trabalhamos. É necessário que se remodele a educação, conectando-a com os conhecimentos deste novo mundo e realidade, estimulando novas práticas de ensinar, em ciclos curtos e conectados com o trabalho, com grande foco em matemática, programação, desenvolvimento de software, e soft skills emocionais relacionados com a criatividade e adaptabilidade nas escolas.

A junção entre tecnologia da informação e educação pode proporcionar impacto social, gerando inclusão e oportunidades para as pessoas, tornando-as mais capazes e autônomas na exploração de suas potencialidades e transformação de suas realidades.

Os novos caminhos proporcionados pela tecnologia

O acesso à educação é uma das ferramentas mais poderosas que existe, a partir do momento em que se tem informação e conhecimento, tem-se poder para definir prioridades e escolher caminhos. Analisemos o dilema em que o Brasil está inserido, com uma grande quantidade de vagas na área da Tecnologia da Informação e, ao mesmo tempo, um altíssimo nível de desemprego.

Uma possível solução para impasses como esse é iniciar uma transformação no mercado de educação e trabalho, aliando perspectivas de carreira com habilidades e desejos pessoais, buscando fechar as lacunas de oferta e procura por profissionais e vagas de Tecnologia da Informação.

Por isso, é preciso entender o contexto em que os nossos potenciais talentos estão, de modo a criar alternativas eficazes ao sucesso deles. Investir em acesso à educação e na democratização do ensino de Programação e Tecnologia da Informação para que uma quantidade maior de pessoas tenha amplas opções e orientação de carreira, além de políticas de Estado que foquem na inclusão social e econômica, são apostas bastante assertivas para que mais talentos sejam descobertos, bem como tornar mais fácil a jornada profissional dessas pessoas, tirando-as da invisibilidade e, por consequência, o nosso país.

 

*Marco Santos é presidente da GFT para o Brasil e América Latina. Este artigo foi publicado com exclusividade no Canaltech