Uso de API’s no mercado de serviços financeiros

Embora à primeira vista o uso de API (Application Programming Interface ou “Interface de Programação de Aplicativos”) pareça um assunto muito técnico, a ideia principal deste artigo é apresentá-lo de forma simples e sob a ótica de negócios para mostrar como as empresas podem aumentar seus negócios com sua adoção.

Um aplicativo ou software construído para atender um usuário final  costuma ser projetado para tornar sua utilização simples, rápida, fácil e agradável. Um software não tem olhos, emoções ou intuição, então ele não precisa de uma interface amigável quando se trata de entregar serviços para outro aplicativo. No entanto, da mesma forma como a interface adaptada para seres humanos, o software necessita de uma interface que facilite o consumo de dados e,ou funcionalidade.

Uma API é um conjunto de rotinas e padrões estabelecidos por um software para a utilização das suas funcionalidades por aplicativos que não pretendem envolver-se em detalhes da implementação do software, mas apenas usar seus serviços. As API’s são comumente desenvolvidas como interfaces para serem entendidas por computadores, da mesma forma como as interfaces de usuário, são criadas para ser entendidas e utilizadas de forma clara por seres humanos.

apiUma boa maneira de entender as API’s é no contexto de uma tomada comum de parede. As tomadas elétricas encontradas em casas ou empresas são interfaces construídas essencialmente para um serviço: a eletricidade que é consumida por nossos computadores e smartphones,  TVs, geladeiras, secadores de cabelo, entre outros aparelhos eletro-eletrônicos. A energia elétrica é o serviço e cada dispositivo que usa a eletricidade é um consumidor desse serviço.

Embora possuam diferenças dependendo da legislação de cada país, as tomadas elétricas têm alguns padrões abertos que permitem aos plugues elétricos que sejam conectados e consumam a energia oferecida (por exemplo, no Brasil, a maioria das tomadas entrega 110, ou para ser mais preciso, 127 Volts de corrente alternada. Esta especificação define essencialmente uma expectativa relacionada aos dispositivos de consumo. Da mesma forma, uma API especifica como componentes de software devem interagir uns com os outros.

Através da interface padrão, qualquer consumidor pode facilmente utilizar a energia necessária para suprir seus dispositivos que estejam compatíveis e conectados de acordo com a norma vigente. Para o consumidor porém, não importa o que está acontecendo do outro lado da parede, sejam coisas simples como a cor da fiação embutida ou “detalhes” mais complexos como a forma como a eletricidade é gerada (seja por uma usina eólica, nuclear, hidrelétrica ou solar) ou de onde essas fontes de energia estejam localizadas.

E no sentido contrário, o provedor também não precisa explicar ou apresentar quaisquer detalhes de como os serviços são oferecidos. Como a geração da energia é feita é a parte que interessa apenas ao provedor. Em um mercado fortemente regulamentado como o de Serviços Financeiros, as informações pessoais confidenciais de correntistas serão mantidas “por trás dos muros” garantindo a privacidade dos dados, o sigilo bancário e a segurança das transações.

Normalmente são criadas páginas web ou portais direcionados aos desenvolvedores, nos quais as normas e padrões da API estarão descritos e disponibilizados por meio de documentação oficial funcional e técnica à qualquer empresa ou desenvolvedor interessado em utilizar os produtos e serviços oferecidos pela instituição financeira.

Através da API, produtos e serviços como empréstimos, seguros, comércio eletrônico, pagamentos, informações de clientes, histórico de transações, autenticação e transferências bancárias, entre outros, poderão ser entregues a partir de uma ampla gama de dispositivos compatíveis.  Um comerciante que hoje oferece os seus produtos e serviços através de sua página web ou até mesmo em sua loja física, passa a oferecer um serviço de valor agregado, de forma segura aos seus clientes, acelerando a conversão e evitando desistência.

Neste novo modelo de negócios, um banco pode expandir seu raio de ação e aumentar sua receita. Por outro lado, a exposição de sua marca será menor ou inexistente, uma vez que o aplicativo pode ou não indicar quem está por trás do serviço oferecido. É parte da decisão estratégica de negócios da instituição decidir por sua utilização, dependendo da expectativa de resultados. Inovação, aumento de receita, expansão, custos e segurança são fatores críticos que devem ser considerados para a tomada de decisão pela utilização de API’s.

Ainda no tópico de segurança, as APIs são comumente desenvolvidas em três modelos: privado (interno), público (externo) ou restrito (associado). E, mais uma vez, isso depende da estratégia da empresa. Se os dados a serem expostos são muito sensíveis, as melhores opções poderiam ser uma API privada ou restrita. Apesar de mais rentáveis, este tipo de API não é de fácil manutenção e, ou atualização, uma vez que elas não têm o apoio da comunidade de desenvolvedores da maneira que as API’s públicas.

O uso de API’s Abertas promove um ecossistema centrado no cliente e inovação aberta. Atualmente, mais de 15 mil API’s (nos mais variados segmentos de mercado como serviços financeiros, governo, telecom, mobile, transporte, educação, ciência e outros) estão disponíveis no site Programmable Web. Além de informação, orientação e referências, o portal também funciona não apenas como um diretório para empresas à procura de API’s, mas também para os desenvolvedores e provedores poderem disponibilizar suas API’s.

O Open Bank Project, por exemplo, é uma API de código aberto e também loja de aplicativos para bancos que permite que as instituições financeiras desenvolvam suas ofertas digitais de forma rápida e segura usando um ecossistema de aplicações e serviços de terceiros.

Um case muito bem sucedido de API’s abertas no setor bancário é o BBVA API Market. Com presença em mais de 35 países e utilizando estratégias digitais abertas e inovadoras, em conjunto com o “mobile first” e Omni-channel, o BBVA já oferece um amplo conjunto de API’s de produtos e serviços através de seu portal.

As vantagens econômicas da utilização de APIs são vastas. Explorar este universo exige experiência e capacidade técnica para implementação e, desta forma, trazer os benefícios esperados para as empresas.

*Adriano Balaguer é senior business consultant da GFT Brasil. Este artigo foi publicado originalmente em Computerworld.com.