Como formar e aperfeiçoar um time de TI

São Paulo, setembro de 2015 – A primeira declaração que o manifesto ágil nos apresenta é a valorização sobre os indivíduos e a interação entre eles, ação que deve ser adotada mais que (e não no lugar de) os processos e as ferramentas utilizadas no nosso dia a dia. Porém, um dos maiores desafios de um time de TI é justamente navegar pela subjetividade das relações entre pessoas e saber racionalizar como as próprias ações individuais podem afetar, de maneiras diferentes, cada integrante do time, assim como as ações individuais de cada membro do time podem afetar uma pessoa.

No modelo de desenvolvimento de grupo, proposto por Bruce Tuckman, uma das fases mais delicadas que um time passa, logo após a formação, é chamada de Storming. Esta etapa geralmente tem início justamente quando emergem conflitos entre os membros do time, sendo um dos principais problemas as diferenças entre os estilos de trabalho de cada um. Estas diferenças devem ser entendidas e trabalhadas pelo grupo para que o time possa se mover em direção ao próximo estágio.

A forma como cada indivíduo se comporta em um grupo e o papel que assume nele foram mapeados e classificados em nove tipos por Meredith Belbin, chamado de Inventário de Papéis em Times.

Utilizar o Inventário de Papéis em um time que está passando pela fase de Storming pode ajudar os membros do grupo a entenderem o papel que cada um deles exerce no grupo, quais são seus pontos fortes e fracos e como essas característica podem afetar o time de forma positiva ou negativa. O processo também irá ajudar no entendimento do porquê cada pessoa age de uma certa maneira e possui um modo de trabalho particular. A empatia gerada através do autoconhecimento pode ajudar o time a sair do Storming e caminhar para a próxima fase.

Abaixo os nove tipos de papéis e um resumo de suas contribuições e pontos fracos.

  • 1. Plant: detém ideias inovadoras, é criativo e resolve problemas difíceis. Em contrapartida, pode ser muito irrealista e pensar sem um resultado palpável ou não agir;
  • 2. Monitor Evaluator: tem a visão do todo, análise apurada e insights estratégicos e críticos. Entre suas fraquezas estão a permanência na racionalização intelectual, é muito crítico e distante;
  • 3. Specialist: É dedicado, seu conhecimento é especializado e suas habilidades são únicas e raras. Porém é isolado e falta interação social;
  • 4. Coodinator: Esclarece objetivos, estrutura discussões e cria unidade. Fazem parte das suas fraquezas inerentes a ligeira manipulação para atingir objetivos e a delegação de trabalho com muita frequência;
  • 5. Team worker: É responsável por criar espírito de equipe, tendo bom relacionamento interpessoal, sensibilidade e atenção. Entretanto, evita conflitos e confrontos e, muitas vezes, é indeciso em situações delicadas;
  • 6. Resource investigator: Responsável por utilizar contatos externos no auxílio à resolução de problemas, esta figura traz novas ideias e oportunidades com grande capacidade de improvisação. Seu otimismo, porém, alavanca distração, culminando no começo de atividades sem finalização;
  • 7. Shaper: Neste papel, encontramos características de uma personalidade que gerencia conflitos com facilidade, movendo o time para frente e mostrando resultados. Sua intolerência com pessoas sem muitas ambições tende a provocar e magoar;
  • 8. Implementer: Esta figura detém aptidões práticas, transformando ideias em planos e ações com grande sistemática. Como pontos negativo está a inflexibilidade, que leva a agir antes de pensar e evita inovação;
  • 9. Completer finisher: O último papel da lista assume uma posição detalhista, detectando potenciais problemas e fazendo a análise de qualidade e riscos. Esta característica, porém, leva a uma inclinação preocupada sem necessidade, sendo muito perfeccionista e relutante a delegar.

Claro que as pessoas são mais complexas do que as definições de Papéis de Belbin, no entanto elas apresentam comportamentos que se aproximam da descrição de um ou mais papéis descritos acima, e isto pode ser utilizado para que o time ganhe autoconhecimento, seja de si próprio ou dos outros membros do time. Assim, é possível promover a empatia e o entendimento objetivo do que cada pessoa está contribuindo para atingir as metas com suas características individuais e que precisam ser entendidas como inerentes a cada um dos papéis e que necessitam de compreensão e colaboração.

O inventário de papéis também pode ajudar ao formar um novo time. Por exemplo, um grupo formado somente por Plants pode facilmente perder-se em ideias e nunca executá-las; em um ponto de vista oposto, um grupo de Implementers pode mover-se rapidamente com suas ações, porém sem seguir uma ideia específica. Essa ideia, melhor formulada, poderia ter sido sugerida por um Plant.

Não há uma fórmula mágica, mas o que o inventário de papéis mostra é que a diversidade e complemento dos papéis em um time, o entendimento de cada papel e a aceitação pelo grupo do estilo de cada indivíduo podem ser um bom ponto de partida na formação e no aperfeiçoamento de um time.

Alex Mello Santana é analista de sistemas da GFT Brasil. Este artigo foi publicado originalmente em corporate.canaltech.com.br.